Viajando aprendemos bastante sobre o lugar de onde viemos e fazemos muitos amigos (inclusive outros viajantes), o que nos estimula a seguir viagem rumo a suas cidades para conhecê-las. O problema é que não podemos nos demorar, mas quando voltamos às nossas casas, temos mais motivos para rever estes amigos, assim, passamos a trabalhar em novos roteiros de viagens e nos lançamos com mais energia em todos os nossos demais projetos. - Alberto Jr.

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NORDESTE MOTO-CAMPING

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O aventureiro aqui conseguiu umas folgas (carta de alforria temporária) para se ausentar da empresa entre os dias 23 de junho e 11 de julho, e diante da ausência de passagens para Cruz das Almas, o herói aqui teve de seguir de Salvador para lá de moto. Na sequência a Laranja Mecânica apresentou um problema mecânico e como não seria interessante deixá-la em Cruz para seguir num mochilão pelo nordeste de carona, resolvi adiar as caronas e fazer a trip toda de moto, mas mantive firme a idéia de viagem independente, acampando, fazendo compras em mercados e fazendo minhas próprias refeições.

Sábado, 26 de junho de 2010
Depois de curtir as festas juninas com grande parte dos familiares em Cruz das Almas/BA desde o dia 23 de junho, parti pela BR-101 no início da tarde do dia 26 em direção ao litoral nordeste. Peguei entroncamento na altura de Esplanada/BA e segui até Conde, onde tomei a BA-099 (mais conhecida como linha verde). As condições climáticas não favoreciam pernoitar em Mangue Seco, então segui para Indiaroba/SE onde acampei num posto de gasolina após fazer mercado no centro da cidade.
Domingo, 27 de junho de 2010
Acordei às 5:15h, levantei acampamento, tomei café-da manhã e segui viagem até a praia de Atalaia, Aracajú/SE, onde acampei no Camping Clube Brasil, uma grande rede de campings com uma estrutura formidável. Aproveitei para descansar e à noite fui à orla, onde assisti a uma partida de hockey sobre patins.


Segunda-feira, 28 de junho de 2010

Acordei às 6:15h, coloquei na mochila pequena umas coisas que iria precisar durante o dia, juntamente com os documentos e manual da moto (de onde memorizei 2 endereços de autorizadas Honda) e  fui levá-la para revisão de 15mil km. Adorei a experiência de rodar pela cidade procurando aqueles endereços. Depois de verificar que a lista de espera da Moto Pop era muito grande, a deixei na Aribé Motos e na saída, passei no G. Barbosa onde comprei umas provisões e na saída, tomei café-da-manhã no banco de um terminal de ônibus desativado. Foi uma experiência incrível aprender a andar de ônibus pela cidade. Claro que tive algumas dificuldades, mas consegui chegar até Atalaia de onde segui caminhando de volta ao camping, sendo que no caminho o anúncio do depósito de babidas do sr. Balbino em meio à calçada me chamou a atenção. Não poderia perder aoportunidade de comprar uma cerveja e conhecer o seu dono. Na saída aproveitei para comprar álcool no posto de gasolina mais próximo.

Terça-feira, 29 de junho de 2010
Acordei por volta das 6:00h da manhã, tomei um banho, peguei umas coisas e fui passear pela orla de Atalaia onde visitei um largo com esculturas em metal de figuras importantes que fizeram a história do estado de Sergipe. Com aquela insipração, não podia deixar de sentar para tomar café-da-manhã e escrever ali. Observei que muitos turistas ali chegavam, tiravam fotos e sequer olhavam os nomes daquelas figuras, muito menos a tabuleta com o resumo de suas vidas. Num dado momento apareceram dois garotos que além de chamá-los por seus nomes, conversavam com eles, lhes dando atenção. Fiquei impressionado com a sensibilidade daqueles garotos que estavam literalmente vagando pelas ruas sem seus pais terem noção de que estavam do outro lado da cidade. Mais tarde ao fazer o caminho de volta ao camping, tirei umas fotos bacanas na praia e me preparei para ir buscar a motoca que ficou pronta naquela tarde. Achei muito interessante a experiência de aprender a andar de ônibus em Aracajú e fiquei impressionado com a quantidade de ciclovias que cortavam boa parte da cidade.

Quarta-feira, 30 de junho de 2010
Acordei às 5:15h da manhã, e como estava chovendo fiquei na barraca, depois saí pra tomar café-da-manhã, levantei acampamento e já ia sair quando começou uma fina chuva. Apostei que não poderia aumentar e perdi feio, pois mal dobrei a primeira esquina quando fui apanhado pelo maior dilúvio que me acompanhou por 2km  até o posto onde abasteci a motoca. Na sequência, visitei alguns pontos turísticos e segui  para o norte pela BR-101, desviando à direita no norte do estado para o povoado de Brejo Grande no litoral, de onde fiz uma trilha pelos povoados de Brejão e Saranem até alcancar a foz do rio São Francisco e depois segui de volta à Brejo Grande, onde já cheguei anoitecendo. Segui até o local da balsa e me informaram que ela estava a caminho. Já estava muito escuro quando atravessamos o velho chico para Piaçabuçú/AL, onde  intencionava pernoitar, mas foi quando fiz amizade Claiton, um rapaz bem conhecido e morador da região que ia seguir para norte até Coruripe/AL. Apesar de ser noite e do cara ter dito que iríamos tomar um desvio até o povoado onde ele morava (Bom Sucesso) achei interessante aquela aventura e segui com ele. Assim, tomamos uma vicinal, que por conta das chuvas que arrasavam o estado de Alagoas estava cheia de poças, alguns trechos com lama, e cheguei por duas vezes a perder o equilíbrio e só não caí porque pus os pés na lama!! Passamos na casa dos tios de Claiton e conheci aquelas amáveis pessoas. Daí ele trocou de roupas e disse que seguíriamos por asfalto até Coruripe, e foi quando descobri que lá iria acontecer o último dia de festa daquela que é a cidade que tem o maior São João do estado. Passamos por Pindorama/AL e quando chegamos em Coruripe paramos no posto de gasolina BR que havia na entrada da cidade e combinei com o vigilante sr. Luís um local pro meu acampamento, depois chegou um amigo do claiton também de moto e fomos ao centro tomar umas gelosas, onde encontramos mais outros amigos dele. Mais tarde voltei ao posto pra me "hospedar", troquei de roupas e segui pra aproveitar um pouco da festa.

Quinta-feira, 01 de julho de 2010
Acordei por volta de 6:30h, levantei acampamento, passei em dois mercadinhos onde consegui comprar umas frutas e segui até uma lanchonete onde pedi um suco com sanduíche. Depois do banquete segui pelo litoral conhecendo as praias alagoanas, destaque para o ponto que primeiro foi avistado pela esquadra de Cabral ao chegar ao Brasil e onde , naufragou em 1556 a nau que trazia o primeiro frei Brasileiro, D. Pedro Fernandez Sardinha, em Barra do Coruripe. Lugar fantástico, onde fiz amizade com seu Queiroz e dona Rose, donos da pousada Mirante do Pontal, muito bonita e aconcehgante, que além de me oferem um lanche delicioso, me deixaram recarregar as baterias da máquina. Dona Rose ainda me ajudou a montar um roteiro para visitar os melhores sítios com belezas naturais daquela região e, como o casal de nativos conhecia bem o litoral do seu estado, aquelas dicas foram um prêmio e tanto. Me despedi e segui pelo litoral alagoano, com praias de fácil acesso devido à existência da rodovia litorânea.  Destaque para a Lagoa do Pau, Duas Barras (ou Dunas do Marapé), Lagoa Azeda, praia do Gunga e São Miguel dos Campos. Por último a praia do Francês e como nesta não havia camping, segui até a praia de Cruz das Almas, litoral Norte de Maceió. Claro que para isso tive de cruzar toda a cidade num momento de congestionamentos, mas de qualquer forma, nada comparado com os congestionamentos de Salvador. Quando cheguei ao camping, próximo do Reymar Hotel na orla já era noite e o cansaço era tanto que estava mais morto que vivo. Apesar disso, montei acampamento  em 25min, tomei banho, fiz comida, lavei roupa e fui à um quiosque da orla tomar água de côco e umas caipirinhas ao tempo que ouvia a apresentação de um músico muito bom que tocava MPB.


Sexta-feira, 02 de julho de 2010

Acordei por volta das 9:00h e fui ao G. Barbosa fazer compras onde fiquei impressionado com o tamanho do bicicletário. Na volta me deliciei com o maior banque na mesa do camping. A administração colocou uma TV ao ar livre para assistir ao jogo da seleção brasileira com a holanda e resolvi acompanhar enquanto tomava café-da-manhã. Curiosamente aquele foi o único jogo da seleção "Dunga" que assisti e, curiosamente foi o jogo da nossa desclassificação. O tempo que fiquei em Maceió tive aquele imenso camping só para mim. Muito legal, pois parecia que estava acampando no jardim da minha casa.


Sábado, 03 de julho de 2010
Acordei por volta das 8:00h, levantei acampamento Dias depois segui pelo litoral alagoano e houve um trecho onde a rodovia litorânea se transformou numa verdadeira montanha russa, com curvas muito perigosas ao longo da qual cheguei a ver uma carreta tombada, dois caminhões batidos e um caminhão atravessado na pista. Fiquei impressionado com a quantidade de radares que existiam do estado de Alagoas para norte. Atravessei a fronteira com Pernambuco e tomei um acesso para Porto de Galinhas/PE, onde cheguei assistindo a um pôr-do-sol fantástico. Me informaram que o camping da dona Alzira ficava na praia de Maracaípe (logo ao lado), lugar muito sossegado e lá chegando logo me identifiquei com aquela senhora que muito me lembou dona Francisca, avó querida que me faz falta desde que tenho 5 anos de idade. O camping além de ser numa área muito legal, na beira da praia era repleto de placas informativas e às vezes curiosas como aquela com os dizeres "proibido o uso de fumo alternativo", coisa que achei muito engraçado. Outra coisa que me divertiu muito foi a existência de um jacaré de boca aberta bem no meio do camping. Avisei a dona Alzira que ele estava me olhando de forma estranha e que se eu fosse atacado iria processar o camping. Após tomar banho e fazer janta, fui à praia do Porto de Galinhas.

Domingo, 04 de julho de 2010 


Acordei tarde, por volta das 10:30h, fiz um desjejum com frutas e chocolate quente e depois coloquei outras frutas, e pão de centeio na moto e fui fazer uma pequena trilha pela praia e arredores, até que encontrei um estuário onde resolvi sentar numa sombra para apreciar a natureza, escrever e mais tarde comer. Posteriormente segui os 4km pela praia até o Porto de Galinhas, onde sentei pra escrever, ler e fotografar. Foi muito legal treinar equilíbrio na moto naquela praia pois a areia era bastante solta.Ao final do dia, voltei pro camping, onde fiz contato com outros mochileiros enquanto fazia a janta. Mais tarde retornei à praia do Porto onde tomei algumas cervejas e ao voltar pro camping, tomei uma garoa que me deixou molhado o suficiente para sentir o maior frio e me tremer todo em cima da moto.


Segunda-feira, 05 de julho de 2010
Acordei por volta das 5:30h da manhã para ver um belo nascer-do-sol. Ao voltar ao camping para o café-da-manhã fui atacado pelo Jacaré que estava com fome, ô coitado. Expliquei que tinha família e que meus amigos iriam tirar o maior sarro se soubessem que um jacaré tinha me comido então ganhei "Jaquinho"  quando ofereci uma parte do meu café-da-manhã. Então me despedi da praia de Maracaípe, seguindo por um desvio com estrada de chão, depois passando pelo Porto de Galinhas, e foi quando observei que o velocímetro não marcava velocidade nem as quilometragens. Ainda tentei resolver numa cidadezinha próxima mas só em Recife/PE que constataram que o cabo do velocímetro estava quebrado. Também descobri que naquela autorizada o pneu traseiro da minha XR-250cc Tornado custava quase a metade do valor que em  autorizadas de Salvador, então imediatamente comprei um novo e pedi para trocá-lo. Ao final havia perdido uma manhã em Recife e na sequência passei por Olinda, nunca encontrando um camping, então resolvi seguir para norte muito feliz por ter me livrado do trânsito infernal daquelas duas cidades, com condutores mal educados (e que lembravam muito Salvador). Segui para Ilha de Itamaracá e parei logo após cruzar a ponte que a separava do continente, pois aquela vista me fazia sentir outra vez o poder da natureza, foi quando concluí que a decisão de "fugir" de Recife e Olinda foi muito acertada. Na sequencia, fiz uma trilha bacana no caminho para a Vila Velha, tomei um desvio até um lago muito bonito nas imediações de um povoado. Depois fui até o mirante do povoado de Céu Azul e logo mais, segui até o Forte Orange, onde fiz contato com os vigilantes e montei acampamento ao lado da barraca de vigilância que havia em frente àquela fortificação, construída pelos portugueses sobre ruínas de um forte holandês da época das invasões. Fiz a janta e após me fartar, o cansaço asociado aos fortes ventos que ali chegavam me desestimularam a remota idéia de tomar banho.


Terça-feira, 06 de julho de 2010
Acordei por volta das 6:20h e percebi havia perdido o nascer-do-sol, fui ao banheiro público, tomei café-da-manhã e como não caía água no chuveiro, tomei um balde emprestado de um nativo lavador de carros que estava por ali e usei para tomar um banho. Posteriormente levantei acampamento e saí para explorar um pouco mais a Ilha antes de partir, sendo que a primeira atividade foi visitar as instalações internas do Forte Orange , que no dia anterior estava prestes a fechar quando cheguei lá. Chegando ao Engenho do Amparo conheci os srs. Jorge e Bira e o primeiro me contou alguns detalhes da história local, e como um incêndio destruíu o engenho do Amparo 10 anos antes. Ele também falou sobre o processo de tombamento da Igreja de Nossa Senhora do Amparo pelo IPHAN, mas cujo lento processo burocrático e rápida ação do tempo e dos saqueadores foi responsável por transformá-la em ruínas, ao invés de restaurá-la. Assim, pode-se dizer que a igreja do Amparo realmente "tombou". O sr. Jorge ainda acrescentou que Rubinho, atual prefeito de Itamaracá é um historiador que tem prazer em passar seus ensinamentos a quem quer que o procure. Na sequência, visitei a Vila de Nossa Senhora da Conceição, conhecida como Vila Velha, sede da antiga capitania de Itamaracá, fundada pelos portugueses no século XVI e que foi ocupada pelos Holandeses no ano de 1631. Ao final rumei direto para João Pessoa, onde visitei a catedral no centro histórico e peguei o mapa turístico daquela cidade tranquila e que aos poucos me deixou muito à vontade para  inclusive rodar pela primeira vez sem jaqueta e luvas. Acampei na ponta do Seixas, novamente no Camping Clube Brasil. À noite fui beber umas caipiroskas na orla e observei que haviam pontos onde era possível alugar bicicletas num sistema muito moderno e automatizado onde o cliente utilizava um fone e um código para contactar a central que destravava a bicicleta e que após o percurso podia ser devolvida em outro ponto com o mesmo tipo de bicicletário.

Quarta-feira, 07 de julho de 2010
Acordei às 4h da manhã pra ser o primeiro americano a ver o sol nascer no ponto mais oriental da América, na ponta do Cabo Branco, onde há um Farol da Marinha. Anastácia e Ana chegaram logo em seguida para presenciar aquele fantástico espetáculo. Mais tarde fui circular de moto pela cidade e pude comprovar que o comportamento dos nativos no trânsito era de extrema educação. Rodei quilômetros sem luvas e jaqueta pelo litoral norte e sul da cidade. Observei também que as pessoas demonstravam tranquilidade mesmo ao serem abordadas nas ruas por um estranho de moto para lhes pedir informações. Ao voltar ao camping pude conhecer melhor meus vizinhos. A maioria eram aposentados que viviam em moto-homes, viajando pelo Brasil, de camping em camping. O seu Guilherme (mineiro) disse que conhecia todas as praias baianas e me deu algumas dicas de destinos. Desde que sua esposa faleceu um ano e meio atrás, ele não parou mais de viajar. Seu Sérgio e dona Mari (paulistas) estavam viajando há mais ou menos 2 anos e tinham um moto-home ônibus, onde tinham tudo que prrecisavam e me aconselharam entrar na "família" investindo na minha qualidade de vida, adquirindo um moto-home para os trabalhos de geologia. Seu Konishi e dona Marisa (paulistas descendentes de japoneses) estavam viajando a 3 anos e disseram que até bem pouco tempo atrás estavam acampando de barraca. Eles também tinham um filho geólogo que havia nascido doze dias antes de mim e que estava trabalhando com perfuração de poços tubulares, atendendo demandas pelo Brasil. Fiquei muito feliz por ter aquele contato com a vida de um campista de moto-home, principalmente por ter recebido tantas dicas de gente tão amável. Adiei minha partidapor conta das chuvas que caíram naquele dia, o que foi bom pra descansar.
 
Quinta-feira, 08 de julho de 2010
Acordei cedo, levantei acampamento, tomei café, me despedi dos vizinhos e peguei a BR-101 nos sentido norte em direção à Natal. Quilômetros à frente, tomei um acesso à direita que me levou por praias lindas, até que cheguei na praia da Pipa/RN, depois subi até as falésias (chamadas de Chapadão), de onde tirei umas fotos legais. A partir daí, segui até a sede municipal de Timbaú do Sul, onde segui sem parar para a praia onde ficava a balsa que suspendeu a rampa e partiu assim que subi com a moto, como não houve parada ali, ficou até parecendo alguma cena de filme. Assim que atravessamos a
Lagoa Guaraíras iniciei uma das mais difíceis trilhas que ja fiz: 4km com carga pela areia da praia e campo de dunas. Cheguei até a pensar que não fosse conseguir. Os bugres partiram na frente e abriram grande vantagem, sumindo do mapa. Ainda tentei adentrar mais as dunas e encontrar algum trecho com mais aderência, mas a areia era muito fina, seca e solta. Minutos depois baixei de 23 para 8libras/pol² a calibragem dos peneus o que me permitiu ganhar aderência e só assim finalmente consegui progredir. Mais adiante encontrei o acesso na praia que levava ao povoado onde sabia que havia asfalto pela beira mar, no sentido norte até Natal. Quando subi a rampa da praia de camurupim haviam alguns garotos sentados conversando e todos ficaram me olhando talvez imaginando de onde havia saido "aquele maluco" de moto. Cruzei todo o povoado até encontrar a pista asfaltada, por onde segui até dar um rápido desvio na rota para conhecer a Lagoa do Arituba, voltando logo em seguida. Adiante encontrei uma borracharia onde calibrei novamente os pneus para 22lb/pol².

Continuei passando por praias fantásticas como a praia da Barreta e a praia de Tabatinga, bem como por falésias com vistas tão incríveis que davam vontade de ficar ali parado toda eternidade vendo de cima a fusão entre os azuis do céu e do mar no horizonte distante. Logo em seguida alcancei a praia de Búzios onde há um núcleo urbano bem consolidado entre gigantescas dunas e a praia.


Mais para o norte passei por Pirangi do Sul e logo em seguida, cruzei a ponte sobre o rio Pirangi para chegar à Pirangi do Norte, onde visitei o maior cajueiro do mundo, que tem mais de 100 anos e não pára de crescer. A árvore é maior que um campo de futebol  e tem duas aberrações genéticas. A primeira é que seus galhos não páram de crescer  ficando tão pesados que curvam até tocar o chão, e é quando se dá lugar à outra aberração genética, pois brotam novas raízes  destes galhos, fazendo com que continue crescendo, como se fosse uma outra árvore. É incrível como o cajueiro toma metade de uma pista, onde só é possível passar um veículo de cada vez. Infelizmente não era época de safra de cajus e não pude colher um fruto para minha mãe plantar no seu pomar para fazê-la pensar que, semelhente a "João e o Pé de Feijão", ela  seria protagonista de da fábula "Dona Creusa e o Pé de Cajú", pois o cajueiro iria crescer sem parar e um belo dia ela acordaria com sua casa no céu. Perdido com aquela idéia, estimulada pelo fascínio daquela incrível viagem, não me dei conta do horário, que fazia a fome apertar a barriga, e talvez tenha sido por isso que juraria que encontrei uma suculenta maçã naquele pé de cajú. Não sei, só sei que foi assim... A foto ao lado não me deixa mentir...

De Pirangi do Norte segui para Natal, onde cheguei já escurecendo. Logo avistei a ponte que liga a cidade ao litoral norte e quando cheguei no Forte dos Três Reis Magos fiz amizade com um motociclista da cidade. Todas as informações recebidas sobre a existência de camping eram truncadas e após dar algumas voltas na cidade sem encontrar camping fiz uma pausa num posto de gasolina  onde comprei água de côco "em copinho" de duas marcas diferentes. Não  fui feliz com a primeira pois parecia que estava misturada com "água torneiral", agora a segunda era deliciosa, foi aí que bebi mais dois copos dela e ao final percebi que pela primeira vez na vida havia ingerido 1,2 litros de algum líquido numa só vez. Em seguida cruzei Natal outra vez e rumei para a praia de Genipabú, onde comprei alguma água mineral e dei uma volta pela praia e utilizei o farol da moto para encontrar um lugar legal pra acampar e foi assim que montei um acampamento selvagem (sem nenhuma estrutura) na areia da praia, sob a sombra de dois coqueiros. Eram 21h e levei 25 min para montar acampamento. O cansaço nem me deixou pensar em banho nem em janta. Tudo bem, não estava com fome, pois era costume carregar na bagagem alimentos e naquele dia havia tomado iogurte e comido bastante sanduíches e frutas no percurso.

Sexta-feira, 09 de julho de 2010
Como sempre, acordei cedo e dei uma rápida revisada nos meus apontamentos e foi quando lembrei que em Genipabú haviam dromedários, isso mesmo, dromedários!!! Pra meu espanto, quando abri a barraca pensando em tirar umas fotos do acampamento uma linha daqueles bichos enormes e magníficos estava passando ali bem em frente ao meu "hotel". Conversei com o proprietário e tirei algumas fotos. Logo em seguida fui ao centro do povoado, e comprei água, bananas, maçãs, mamões haway,  ovos e alguns legumes para fazer a janta daquele dia que tinha no cardápio, macarronada com legumes, molho branco e queijo ralado. Aproveitei e pedi ao dono do mercadinho para usar o banheiro (garoto esperto!!). Na volta ao acampamento me deliciei com um incrível café-da-manhã, ali mesmo na praia. Improvisei o banco da moto como mesa onde também amarrei uma garrafa de água mineral, a qual só abria um pouco, de forma a cair apenas a quantidade necessária de água, funcionando como uma torneira. Em seguida, voltei ao centro, conectar à internet e atualizar a vida digital. Mais tarde chegou um casal muito agradável e que identifiquei como sendo uma brasileira e um francês que sempre me chamava de Salvador. Aquele senhor apesar do sotaque já falava um bom português e adorou saber de algumas aventuras em que me meti para chegar até ali de moto.

Na sequência fui à lagoa e dunas de Genipabú e mais tarde fiz amizade com o seu Luís, morador local e que ficou muito curioso em saber como iria fazer para cozinhar ali. Então peguei meu kit de cozinha e utilizei alguns blocos de construção e uma jangada que estavam por ali como pára-vento. Logo apareceram alguns pescadores para me observar cozinhando e trocamos algumas experiências de cozinha ao ar livre. Mais tarde seu Luís me apresentou o seu Barbosa, e ficamos conversando sobre minha viagem enquando eu jantava. Seu Barbosa me disponibilizou o chuveiro que havia na parte lateral à sua casa tara tomar banho e foi o que fiz tão logo acabei de jantar. Agradeci e em seguida fui a um barzinho no centro. 
 
Sábado, 10 de julho de 2010
Acordei às 4h da manhã para cuidar dos preparativos da grande viagem de volta que seria de pelo menos 1.100km e seria realizada em dois dias. Claro que toda a pressa não justificaria perder o nascer-do-sol, que como era esperado, foi magnífico. Logo em seguida, tomei café-da-manhã, tirei a mochila de dentro da barraca, juntamente com os equipamentos de motociclismo e por fim, desarmei barraca no exato momento em que fui surpreendido por uma chuva torrencial de forma que tive de colocar a jaqueta da moto às pressas enquanto pensava comigo mesmo "faz parte da aventura". Em poucos minutos já estava todo molhado e, mesmo assim, segui com os preparativos. Terminei de dobrar a barraca, coloquei a capa de chuva da mochila, amarrei tudo na moto, me despedi do seu Barbosa que estava ali em frente e que me falou pra deixar o saco de lixo na sua porta, pois logo mais o coletor iria passar. Eram 6:30h quando parti pela praia de Genipabú, agora pelo povoado de Santa Rita e segui com uma vista maravilhosa da cidade de Natal em direção à ponte que ligava o litoral norte com aquela cidade tão atrativa, tranquila e bacana. Fui até a base da ponte, onde ficava a balsa só pra ter idéia do tamanho e altura daquela mega-construção, depois dei a volta e atravessei a ponte para Natal. 
 
Me dirigi até o Forte Três Reis Magos, onde encontrei um grupo de três ciclistas de Porto Alegre/RS que estavam iniciando ali um pedal de duas semanas até Maceió/AL, de onde tomariam um voo de volta para casa. Trocamos algumas idéias sobre equipamentos de aventuras, especialmente, mochilas, barracas, alforges, grupos de transmissão e bagageiros. Ao final da conversa trocamos experiências com lojas virtuais onde costumávamos fazer compras de tais produtos. A vista e o acesso daquele forte construído na área de influência das marés muito me lembrou o castelo que se encontra na normandia, costa noroeste francesa, e que é conhecido como Mont Saint Michel e que é um dos primeiros lugares interessantes que me vem à cabeça quando penso em Europa. Depois disso segui para o centro de Natal, até localizar a Potiguar, autorizada Honda, onde mandei trocar o óleo da laranja mecânica. Depois disso peguei a BR-101 e segui apenas fazendo paradas estratégicas e postos de gasolina. Fiquei muito triste em saber já em Recife/PE que teria de tomar uma rodovia em direção à Caruarú, para dali seguir para Maceió/AL. Isto era devido ao fato da queda de duas pontes na BR-101 por conta das fortes chuvas que assolavam o Estado de Alagoas e parte do estado de Pernambuco. Em um posto de gasolina um condutor me orientou e combinamos de que o seguiria até Caruarú, mas tive de parar pouco antes da entrada desta cidade para reabastecimento. Tive de dar uma volta por dentro da cidade e fiquei imaginando como seria o São João por lá.

Finalmente tomei outra rodovia em direção a Maceió e comecei a pegar trechos com chuvas mais intensas. Minha previsão estava correta que iria logo anoitecer e desisti por vez de pernoitar em Maceió quando vi uma placa indicando que ainda faltavam 100km até lá, nesta hora ponderei que não valeria o risco me expor tanto sendo que não iria aproveitar a cidade, mas sim descansar para seguir viagem no dia seguinte. Coloquei aquela missão suicida de lado e entrei no povoado de São Miguel da Lage e vi de perto várias obras de reconstrução de trechos de uma das cidades que havia sido arrasada pelas chuvas. Tirei umas fotos legais da igreja que está a 50m da margem esquerda do rio e que milagrosamente não foi destruida. Segui até o centro, fiz compras em um mercado e fui às barracas da feira que iria haver no dia seguinte, mas que, como era costume local, já estavam vendendo seus produtos. Fiquei impressionado com aquele produtor que não quis me cobrar pelos legumes (cebola, pimentão, tomate e cenoura) que separei para fazer minha janta. Eles perguntaram sobre minha viagem e me aconselharam voltar pela estrada, retomar a rodovia, seguindo 1km em direção a Maceió, onde havia à esquerda um posto de gasolina onde caminhoneiros costumavam pernoitar. Agradeci e mergulhei no completo breu e debaixo de uma chuva fina que caía sobre mim ao longo daqueles 4km até que finalmente alcancei o posto, conversei com o vigilante que me levou até uma garagem coberta onde poderia acampar até o dia seguinte. Agradeci e imediatamente me hospedei. Observei que ali ao lado havia uma torneira, que foi muito útil ao preparar minha janta tomando uma cerveja que comprei na loja de conveniência. mais tarde, voltei ainda comendo à loja e comprei mais uma cerveja. Terminei de jantar ali mesmo observando ao noticiário. Troquei dois minutos de prosa com o vigilante e foi o bastante para um sono mortal me apanhar e apagar a vaga lembrança que tinha de banho em minha mente. Fui direto pra cama, ou melhor, saco-de-dormir.

Domingo, 11 de julho de 2010
Novamente acordei às 4h da manhã, fui ao banheiro e observei que os gatos que estavam rondando o acampamento desde a noite anterior ainda estavam em atividade por ali. Enquanto arrumava tudo na mochila rezava para que eles não tivessem "afiado" as unhas no tecido do sobre-teto da minha barraca. Comi dois ovos que cozi na noite anterior, 2 sanduíches que havia acabado de preparar com pão e atum, tomei o único refrigerante de toda a viagem que tive de adquirir devido ao fato da atendente não ter tido troco quando comprei as cervejas. Guardei umas duas frutas, dois ovos cozidos e dois sanduíches pra viagem. Amarrei as bagagens na moto, me despedi do pessoal do posto e peguei estrada, imaginando se iria pegar chuva. E quanta chuva!!!! Imaginei que se aquelas alterações climáticas continuassem com certa frequência, iria surgir uma floresta tropical semelhante à amazônica bem no meio do sertão nordestino.

Segui até a entrada de Maceió/AL, onde tomei a direção de Aracajú/SE. Passei por várias áreas de plantio de cana-de-açúcar e usinas produtoras de açúcar, cachaça e álcool combustível, bem como alguns poços e unidades de produção de petróleomas antes de entrar no estado de Sergipe vi umas ruínas interessantes de uma pequeno oratório ao lado de um bueiro de um engenho que já não existia mais, na beira de um rio. As chuvas deram uma trégua e pude ver um belo arco-íris que se formou, de um lado a outro da pista e foi quando resolvi sair da estrada e entrar na trilha!!! Fui muito bem recebido pelos moradores do acampamento Pau Amarelo (de sem-terras), os quais me deram algumas informações sobre o lugar. Não podia deixar de ficar maravilhado com aquelas ruínas, que tinham para mim um valor inestimável. Novamente me veio à cabeça a idéia de adquirir uma outra máquina fotográfica para melhorar a qualidade de minhas fotografias. Me disseram que havia outra ruína ali próximo, mas desisti de acessá-la por conta do horário avançado, da distância que ainda havia de percorrer e das chuvas que certamente ainda iria pegar no caminho, e por último pensei nas dificuldades daquele terreno de massapê escorregadio igual a quiabo e cheio de poças de lama. Enfim, retomei a BR-101 e segui pra mergulhar na chuva que havia imaginado antes. Minhas botas impermeáveis logo ficaram cheias de água que passava pela calça djeans e mais uma vez fez falta a aquisição daquela calça impermeável Alpinestar que não concretizei alguns meses antes da viagem. Mesmo assim segui até o próximo posto onde faria reabastecimento, de forma que aproveitei a pausa para comer e torcer as meias. O frentista me conseguiu algumas folhas de jornal velho que absorveram bastante umidade de dentro das botas enquanto fazia meu lanche. Segui viagem e fiz outro reabastecimento em Indiaroba/SE, local do primeiro acampamento duas semanas antes. O frentista lembrou de mim, perguntou até onde havia ido e como havia sido a viagem. Quando finalmente entrei na Bahia o tempo melhorou consideravelmente e não mais tomei chuva. Ainda assim não estava tão bom e não tinha tempo suficiente para passar em Costa Azul e ver Mangue Seco (visita adiada no início da viagem).

De qualquer forma entrei em Barra do Itariri e fui obter informações sobre campings, confirmando uma informação prévia de que não havia mais esta possibilidade no local. Retomei a Linha Verde e reabasteci em Guarajuba/BA e percebi que realmente já estava na Bahia, pois o funcionário daquele posto BR não ouvia minha solicitação tal a altura do volume do som de um dos carros que estava ali parado tocando axé. Depois de algum tempo que lembrei que estava usando os abafadores de ouvido e me espantei com a altura que deveria estar aquilo, pois para mim já estava insuportável aquilo que os abafadores permitiam passar. Retomei a rodovia e as cãibras que já incomodavam bastante, se tornaram mais frequentes, então reduzi a velocidade, redobrei a atenção e aumentei a frequência dos exercícios de relaxamento em braços e pernas até chegar em Salvador. Na avenida Paralela não sei como, mas me posicionei seguramente atrás de um veículo de passeio que vinha trafegando  de forma lenta na pista e que foi meu "batedor" por todo caminho até entrar em Narandiba. Fiquei na dúvida, mas parece que aquele condutor e eu havíamos nos cruzado no percurso pelo litoral norte baiano e, sabendo do meu cansaço fez minha escolta. Cheguei em casa e logo fiz contato com meu primo Felipe que desceu do seu apartamento para me ajudar a subir com as minhas coisas e saber como foi a minha aventura. 


Grande abraço e até a próxima!!

Alberto Jr.
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