Viajando aprendemos bastante sobre o lugar de onde viemos e fazemos muitos amigos (inclusive outros viajantes), o que nos estimula a seguir viagem rumo a suas cidades para conhecê-las. O problema é que não podemos nos demorar, mas quando voltamos às nossas casas, temos mais motivos para rever estes amigos, assim, passamos a trabalhar em novos roteiros de viagens e nos lançamos com mais energia em todos os nossos demais projetos. - Alberto Jr.

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Itaparica Moto Trail

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Neste final de senama os aventureiros Cid Bonfim e Alberto Moreira Jr. partiram para uma volta de moto pela Baía de Todos os Santos, com direito a travessia de Ferry Boat para Ilha de Itaparica.

Queríamos ir de Salvador para Santa Tresinha/BA ver como está indo nosso colega Esdras Varjão em suas aulas de asa delta com o professor Zé Galinha (vejam um de seus vídeos aqui), e sentir de perto como é esta experiência e quem sabe combinar um dia para fazer um salto duplo. Não os dois motociclistas juntos na mesma asa, mas cada um de uma vez, acompanhado do instrutor, claro né??

Como tínhamos saído pra beber na noite anterior e voltamos pra casa lá pelas tantas da madrugada, acordamos tarde para iniciar a aventura (não me diga...), então Cid teve a idéia de atravessarmos pelo Ferry Boat, seguirmos pela Ilha de Itaparica em direção à Nazaré e Santo Antônio de Jesus e finalmente Santa Teresinha. Seriam 120km. Resolvemos encarar!!

Nos encontramos no Terminal Marítmo de São Joaquim, ainda do lado de fora, pois motocicleta não pega fila e sabíamos que iríamos direto até o caixa. Eram exatamente 12h quando pagamos os R$19,15 pela travessia, seguimos para o portão de embarque, que dentro de 5min foi aberto. Atravessamos a ponte e a plataforma elevadiça, atravessamos todo o pátio da embarcação pra ficar junto à saída para sermos um dos primeiros na largada.

São aproximadamente 45min de travesia através dos 11km que separam a ilha da peníssula soteropolitana, durante os quais tivemos de ficar por perto das motocicletas, pois havia o risco das mesmas tombarem devido ao balanço do mar. Pouco antes do desembarque fui ao deck superior comprar um lanche pois não houve tempo de fazer uma refeição bem elaborada em casa. Lá em cima um jovem de nome Sérgio se aproximou e fez contato comigo, dizendo que costuma fazer trilhas com seu pai também. Trocamos contatos e ficamos de nos juntar nas próximas aventuras.

Sabíamos que o horário estava avançado e talvez chegássemos em Santa Teresinha quase na hora de voltar. Seguimos assim mesmo e fomos pensando em outras alternativas aventureiras para o caso de abortarmos a operação integrada "terra e ar" com nosso querido Varjão, que havia combinado (no dia anterior) de levar um vinho para tomarmos lá na pousada do instrutor Zé Galinha, pois também havia a possibilidade de pernoitarmos na cidade. De qualquer forma estávamos tentados em curtir a noite soteropolitana e por isso, seguimos com roupas de motocross e não levamos roupas.

No percurso pela ilha observei diversas pessoas circulando de bicicleta pelo acostamento e lembrei da viagem que fiz com Felipe e Rui em abril, na ocasião de sua passagem pela região, ao longo de sua viagem de bicicleta pelo mundo, quando fomos ver a Feira de Caxixis em Nazaré, seguindo posteriormente para Cruz das Almas, num total de 150km em dois dias com nossas bagagens.

Já havia também feito parte daquele percurso algumas vezes de ônibus, a caminho de Valença e Ilha de Boipeba em outras aventuras, mas não lembrava de nada que houvesse ficado marcado na minha memória. Talvez isso fosse pelo fato de que no ônibus só podemos olhar pela janela e agora estava olhando para a frente. De qualquer forma, não conseguia registrar e sentir as paisagens e o ambiente a 100km/h da mesma forma que a 25km/h quando havia feito o percurso de bike. Neste momento lembrei de Antônio Olinto que disse em seu livro No Guidão da Liberdade que "Só há real leitura de tempo e espaço quem vai a pé - ou no máximo de bicicleta" e de como ele enfatizou em uma das mensagens que trocamos por e-mail que estou também seguindo o mesmo caminho que ele, primeiro viajando de moto e depois migrando para bicicleta.

No caminho de ida, o único lugar que consegui sentir plenamente a natureza foi ao atravessar a ponte que liga o sul da ilha com o continente. Seguimos aproximadamente até meu odômetro marcar 85km, pouco após Nazaré, e foi quando decidimos abortar a missão e voltar até a comunidadde de pescadores de Baiacú, onde iríamos tentar localizar as ruínas da 2a. ou 3a. igreja mais antiga edificada no Brasil, a Igreja de Nosso Senhor de Vera Cruz, construída em 1560. É possível encontrar uma série de informações sobre esta igreja pesquisando no google. Aqui está o link de uma página da UOL com informações a respeito. Aqui o link de outra matéria, agora no blog de Itaparica. Clique aqui e veja um vídeo de uma turma que fez uma visita de bike na área.

No caminho de volta decidi ficar mais atento e tentar reconhecer algumas das paisagens que eu tinha registrado ao viajar de bike e novamente passamos pela ponte de volta à Ilha de Itaparica e depois encontrei um segundo local marcante naquela viagem, onde eu havia parado para um rápido lanche, embaixo de uma grande árvore, enquanto aguardava Ruy com sua bicicleta de 45kg e Felipe que, apesar da bike pouco carregada, estava com uma bicicleta inferior e não estava na mesma forma física que eu.


Tomamos o acesso para Baiacú e seguimos até o povoado, seguindo até a planície de inundação, onde os pescadores atracam suas canoas e pequenos barcos. Surgiram algumas crianças curiosas para saber o que de "especial" havia no povoado para atrair aqueles dois seres de roupas e motocicletas coloridas até ali. Depois de respondermos a sua grande lista de perguntas, foi a minha vez de indagá-los sobre a vida escolar e principalmente, suas idades. Foi quando fiz questão de saber quem era o mais velho e o mais novo, depois perguntei se já haviam tomado a vacina e como já era de esperar, eles começaram a mudar as feições... De repente falei com Cid para pegar a vacina que estava supostamente presa no bagageiro da moto (neste momento apontei a sacola de pano que estava presa no bagageiro). No momento em que fui apanhar os garotos pelo braço, imediatamente eles levantaram e partiram desesperados correndo e gritando. Depois de alguns minutos eles voltaram a nos acompanhar, mas desta vez, firaram sempre de longe e desconfiados, ainda tentei convencê-los à suposta vacinação e Cid avisou que a "agulha fina" já havia acabado e agora só tinha da "agulha mais grossa". A criançada estava em pânico. Muito engraçado.

Posteriormente fiz um rápido ensaio fotográfico com a máquina de Cid, quando tentei pôr em prática alguns conceitos aprendidos no curso de fotografia on-line que estava fazendo. Seguem abaixo alguns resultados:
 


Conseguimos obter informações com as crianças sobre como chegar até as ruínas da igreja de Nosso Senhor de Vera Cruz e cruzamos todo o povoado, tomamos a mesma estrada de volta pra BA-001 e, após o sítio Baiacú do Mundo encontramos o acesso à igreja e ao cemitério, que fica aos fundos. A igreja está totalmente abraçada pelos troncos e raízes de 3 ou 4 gameleiras, que é um tipo de árvore de grande porte e que costuma germinar sobre outras árvore. Na medida em que desenvolve suas raízes, ela vai lentamente estrangulando a hospedeira, e quando suas raízes tocam o chão, seu crescimento é acelerado, e em pouco tempo a hospedeira morre. No caso da igreja de Nosso Senhor de Vera Cruz, as gameleiras são (em parte) responsáveis por manter equilibradas as paredes da Igreja, que resistem em ficar de pé, uma vez que os poderes públicos fizeram descaso com este patrimônio.

Identificamos na estrutura da igreja, algumas passagens e arcos que estavam fechados com tijolos e argamassa da época, indícios de que a igreja passou por reformas ao longo dos tempos. Tiramos algumas fotos e outra vez fiz um exercício para colocar em prática as técnicas aprendidas no curso . Abaixo seguem alguns resultados:


 



















Além do cemitério, a relativa limpeza da parte interna das ruínas da igreja onde havia um altar tosco, improvisado com imagens e velas acesas, bem como o recente corte do gramado externo onde pastava um cavalo meio maltratado, eram as únicas evidências da presença humana. Naquele cenário presenciamos um maravilhoso pôr-do-sol.


Na saída outra coisa nos chamou atenção: uma grande caixa armada com placas de cimento sobre o solo, ao lado da igreja, cerca de 50m em frente ao cemitério, ao lado da qual haviam velas acesas. A julgar pelo tamanho e pela posição de destaque ao lado da igreja, é possível se tratar da catacumba de algum padre morto há algumas centenas de anos. De qualquer forma sua tampa é feita também de cimento, e encontra-se em parte quebrada através da qual era possível ver que era totalmente preenchida com solo.



Ao final seguimos até a entrada do município de Itaparica, onde demos uma volta pela cidade, e fomos ao centro histórico, depois à praça principal, onde estava o Bar do Joanilton Marvado. Fizemos um pedido de uma porção de filé de Massambê frito. Como a fome estava apertando e o peixe iria demorar para sair, observamos que ali perto havia o tabuleiro de uma baiana cujos acarajés estavam cheirando muito bem e pareciam muito deliciosos, por isso, pedi um, ao passo que Cid preferiu abará. Para acompanhar, pedimos uma cerveja pro Joanilton.

Pra minha surpresa o acarajé não estava tão bom quanto parecia e passava longe da maioria das acarajés que são encontrados em Salvador e principalmente daquela encontrada no meu bairro, que creio ser o mais gostoso de toda Salvador, apesar de não ser famoso (nem tão caro) quanto os acarajés da Cira e da Dinha. Logo mais, a baiana avisou que estava de partida e lhe pagamos os R$5,00 devidos.



Um tempo depois Joanilton nos serviu o filé de Massambê, acompanhado de salada, farofa e pimenta, tudo ricamente preparado e fiquei surpreso por nunca ter sabido da existência daquele peixe e me parece que só ocorre ali naquela parte da Baía de Todos os Santos.


Estava ficando tarde e, apesar de gostar muito do lugar, tínhamos de voltar ao terminal e atravessar de Ferry de volta à Salvador. Antes de elogiar a comida, solicitamos a conta ao dono do bar para evitar pagarmos preço de "turista" sem saber. Nova surpresa foi saber que toda aquela comida, junto com a cerveja nos custariam apenas R$11,00.


Visitamos os tios de Cid que moram na ilha, passamos pelo forte e seguimos pela orla até o terminal de Bom Despacho, onde compramos as passagens de volta (R$19,15 cada) e seguimos toda viagem conversando sem desmontar das motos, no pátio da embarcação.


Alberto Jr.
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