Viajando aprendemos bastante sobre o lugar de onde viemos e fazemos muitos amigos (inclusive outros viajantes), o que nos estimula a seguir viagem rumo a suas cidades para conhecê-las. O problema é que não podemos nos demorar, mas quando voltamos às nossas casas, temos mais motivos para rever estes amigos, assim, passamos a trabalhar em novos roteiros de viagens e nos lançamos com mais energia em todos os nossos demais projetos. - Alberto Jr.

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Um aspecto da vida no sertão

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Ontem pela manhã, ao chegar numa das áreas de pesquisa, iniciei os preparativos para adentrar a mata, quando fui surpreendido por uma cena muito interessante. Duas crianças que conduziam um animal de carga, ao qual estavam amarrados dois botijões metálicos e um balde plástico de construção de mais ou menos 25 litros. Eram dois irmãos que estavam a caminho de um pequeno açude que abastecia sua família com uma água de qualidade duvidosa. Apesar de não ser tão longe o açude, achei impróprio fazer demasiadas perguntas àqueles dois pequenos, que apesar da tenra idade e pequeno porte físico tinham uma tarefa bastante árdua para cumprir e certamente não podiam se demorar.

A região onde estávamos trabalhando fica na borda leste da Chapada Diamantina, aproximadamente 15km ao norte da BR-242, em terras do município de Lajedinho e na prática não está dentro de uma região castigada pela seca, de forma que aqui a agro-pecuária de subsistência se desenvolve mais facilmente em relação a outras regiões baianas como é o caso do extremo norte, que por ser uma região mais árida, onde as chuvas só ocorrem entre novembro e março, limitando a disponibilidade e acesso aos recursos hídricos, como é o caso dos municípios de Pilão Arcado, Casa Nova, Remanso e Sento Sé. Apesar da região ser cortada pelo médio curso do Rio São Francisco (maior rio totalmente Brasileiro), seus tributários ali são todos intermitentes e apresentam-se secos durante quase a totalidade do ano. Em 1976 foi concluído ali aquele que é até hoje o maior lago artificial do mundo, a Barragem de Sobradinho, que com volume de 37,5 bilhões de m³ de água e área de 4.214 km² de espelho d'água, inundou completamente 19 povoados e as sedes municipais de Remanso, Casa Nova, Sento Sé e Pilão Arcado que foram reconstruídas mais adiante, às margens do rio. A música Sobradinho de Sá e Guarabira (clique aqui e veja uma apresentação ao vivo desta canção no youtube) retrata um pouco do que passou o povo sertanejo naquela época. Ainda hoje projetos como a Transposição das Águas do Rio São Francisco é algo que nada atende das demandas da população, em detrimento dos interesses dos grandes proprietários e produtores da região.

SOBRADINHO - Composição: Sá e Guarabyra

O homem chega, já desfaz a natureza
Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar
O São Francisco lá pra cima da Bahia
Diz que dia menos dia vai subir bem devagar
E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar
O sertão vai virar mar, dá no coração
O medo que algum dia o mar também vire sertão
Adeus Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Adeus Pilão Arcado vem o rio te engolir
Debaixo d'água lá se vai a vida inteira
Por cima da cachoeira o gaiola vai, vai subir
Vai ter barragem no salto do Sobradinho
E o povo vai-se embora com medo de se afogar.
Remanso, Casa Nova, Sento-Sé
Pilão Arcado, Sobradinho
Adeus, Adeus ...



Tive o primeiro contato com a região em 2007 e fiquei impressionado com o tamanho da barragem de Sobradinho e dos parreirais de onde saem o vinho Terra Nova (produto da Miolo), produzido a partir da uva Shiraz, muito bem adaptada à região. Fato é que a técnica de irrigação associado ao clima semi-árido responde não só pela dupla produção anual, como pelo crescimento duas vezes mais rápido que as parreiras existentes no sul do Brasil. Poucos quilômetros adiante (em direção à Casa Nova, Remanso e Pilão Arcado) o quadro muda bastante e o que passa a impressionar é a seca, isolamento e improdutividade da maior parte das terras dali. Uma prova disto é que em Casa Nova se concentra o maior rebanho de caprinos do estado (e um dos maiores do país), pois estes estão mais adaptados à realidade do semi-árido que os bovinos. Um primo que trabalha com zootecnia na região me contou que as cabras são capazes de retardar o parto ou até mesmo abortar caso o período de seca se prolongue além do que seu instinto animal previa, justamente para evitar pôr em risco mãe e cria. Toda esta região é historicamente marcada por conflitos socio-econômicos e agrários agravados pelas difíceis condições climáticas, como foi o caso da Guerra de Canudos. Um projeto de viagem que muito me encanta atualmente é a idéia de desbravar mais o sertão, desde Canudos até o campo de dunas do rio São Francisco.

Enquanto observava e fotografava aquelas crianças que até tentavam fazer de sua tarefa uma brincadeira, me vinham à cabeça uma série de pensamentos sobre o quão diverso e fantástico é o Brasil, quinto maior em extensão do mundo. Ao mesmo tempo em que ficava impressionado em algumas regiões semi-áridas baianas em que já tive a oportunidade de rodar por centenas de quilômetros sem ver um espelho d'água, a abundância deste recurso na região norte também havia me impressionado em setembro deste mesmo ano, quando visitei Belém do Pará e tive a oportunidade de ver alguns rios extremamente largos, sendo que no caso do centro de Belém, existe até um porto fluvial. Por este motivo estou  ancioso para desbravar melhor a região Norte e ver de perto as dimensões do rio Amazonas, onde até mesmo as maiores embarcações se tornam um minúsculo ponto perdido no meio de suas doces águas, como é o caso de navios petroleiros. Vale lembrar que neste rio as variações de "maré" são de até 12m o que responde pelas pororocas, imensas ondas que partem da foz e vão adentrando o rio por quilômetros, arrasando tudo que encontram pela frente. Ao longo deste que é hoje o maior rio do mundo, alguns portos contam com uma estrutura móvel, que lhes permite oscilar de acordo com o sobe-desce das marés.

Grande abraço!!
Alberto Junior.



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Blumenau/SC, Brasil

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Mais uma vez o aventureiro aqui está fazendo uma das coisas que ele mais ama, mochilar!!! Agora ele está pelo sul do Brasil, mais precisamente em Blumenau, Santa Catarina. Depois de tantas atividades de trabalho incluindo congresso de geologia em Belém e excursão pela província mineral de Carajás ele conseguiu a proeza de se manter semi-vivo ou semi-morto por 48 horas, incluindo aí as 24h que esteve em Salvador cuidando de uma série de atividades administrativas na empresa e relatórios imediatamente após voltar de Marabá e antes de seguir para Navegantes, ponto de partida para Blumenau.

Até parecia que as coisas nunca iriam se encaixar e, mais uma vez o plano de participar do oktober iria por água abaixo. Viver tudo aquilo parecia parte de um filme, mas finalmente consegui sair do escritório à noite, diretamente para o aeroporto de Salvador, de onde embarquei para Navegantes, e onde tomei o ônibus que me conduziria para o centro de Blumenau. No percurso fiz amizade com Alessandro, blumenauense que adora fazer trilhas inclusive de jipe pela região. Trocamos contatos e resolvemos nos juntar em alguma aventura futuramente.

Ao desembarcar no terminal da empresa que atende a GOL Linhas Aéreas, ajudei um australiano que não falava português e que estava sofrendo horrores para explicar ao atendente do terminal que havia perdido o vôo e que precisava seguir num determinado horário para comprar novas passagens e ficar por lá até a hora do vôo. Em seguida liguei pro meu "host" Grégori, que foi até lá me apanhar de carro e que me recepcionou como um velho conhecido.


Blumenau é uma cidade muito bacana, e está sendo reconstruída devido à catástrofe do ano de 2008, quando fortes chuvas foram responsáveis pelo desmoronamento de diversas construções, mortes e desabrigo de diversas famílias. Fato é que naquela ocasião, todo o Brasil se mobilizou inclusive com doações para ajudar e amenizar o sofrimento dos desabrigados.

A família do Gregori é muito amável e me recebeu de braços abertos. Ganhei um quarto só para mim, com uma cama muito confortável. Conversamos bastante e subi para descansar por uma hora (afinal, estava quase sem dormir nas  últimas 48h). Em seguida, o pai de Grégori me levou para ver o desfile na rua XV de novembro, onde todos estavam com trajes típicos. Muitas flores, música alegre e crianças tocando instrumentos musicais. A maior parte dos carros alegóricos dispunham de sistemas portáteis para distribuir chopp em pleno percurso. Destaque para o prefeito da cidade e o candidato a presidência da República, José Serra que estavam desfilando na "centopéia", que corresponde a uma grande composição articulada de bicicletas unidas por um "eixo comum", onde todos os integrantes pedalam para mantê-la em movimento, dando voltas e mais voltas pela rua, num movimento muito alegre.



 




Muito marcante foi quando o pai de Gregori e eu fomos pegar na rodoviária uma colega que conheci na trilha Inca, no Perú. A Sabrina teve problemas em contactar um amigo que iria dar hospedagem para ela e terminou ficando no "couch" do Gregori também. Fiquei muito feliz por tê-la reencontrado, principalmente por ter sido de forma tão inusitada e sem termos programado. Não estávamos conseguindo manter um bom contato pela internet.  Apenas sabíamos que havia a possibilidade de nos vermos. Foi sua primeira experiência no CS e ela adorou ser adotada pelos pais do Grég e também cair na farra com seus amigos. Fomos juntos a um aniversário na casa do Dimas. Uma grande festa!! Muito legal.

Grégori tem me levado para casa de vários de seus amigos, onde sempre tem lugar a uma festa, que é normalmente chamada de "esquenta", onde nos "preparamos" antes de ir para os pavilhões da oktoberfest. Observei que o primo Felipe tem feito muita falta nas abordagens por aqui.

 

Muito som e cerveja artesanal de qualidade como Das Beer, Eisehnbahn, etc, e que não tem nada a ver com as cervejas que dominam o mercado nacional, especialmente com relação ao grupo Ambev (Skol, Brahma e Antárctica) que, ao final, pouco tem de difrente entre si.
No geral tenho saído muito com o Gregori em seu carro, mas também tenho tido a oportunidade de utilizar o sistema público de transporte que funciona relativamente bem, contando com diversas estações de integração, onde o cidadão não precisa pagar nova tarifa ao descer de um ônius para tomar outro. Pude observar que as pessoas da cidade são relativamente menos prestativas que no restante do país (especialmente em relação ao norte e nordeste do Brasil), mas com jeitinho obtemos todas informações para mochilar tranquilamente pela cidade.

A idéia amanhã é seguir para Florianópolis e conhecer mais uma das grandes capitais brasileiras, depois quem sabe acampar por uma ou duas praias do litoral catarinense e seguir bem cedo no domingo 17 para o aeroporto de Navegantes para tomar o vôo de volta para Salvador da Bahia.

Grande abraço,
Alberto Jr.
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Belém e Maraba - Pará, Brasil

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O nosso aventureiro foi escalado para participar 45 Congresso Brasileiro de Geologia, e seguiu para Belém/Pará no dia 25 de setembro. Dentre diversas programações e palestras geológicas, ele teve a oportunidade de reencontrar muitos amigos do curso de geologia que já não via a anos. Tivemos a oportunidade de almoçar juntos e de sair pra beber após serem encerradas as atividades. Provamos alguns pratos típicos como carurú e vatapá paraenses, pato no tucupi e a famosa caldeirada de filhote com mariscos. Destaque vai para a pimenta "cereja" como a mesma foi batizada por nós no Restaurante da Duque, que fica na avenida Duque de Caxias, próximo do Hangar, local onde ocorreu o congresso.


Fiquei muito impressionado com o porte da cidade e sua estrutura, sendo que chama atenção a largura das avenidas e a grandiosidade dos prédios em estilo colonial, remontando à força do ciclo da borracha. De um modo geral, a cidade dispõe de um razoável sistema de transportes, mas um ponto negativo marcante observado foi a relativa falta de educação dos condutores, que na maioria das vezes adotam um perfil bastante agressivo e pouco cortês, no volante, conseguindo superar os condutores soteropolitanos  neste quesito. Não pára por aí, ocasionalmente esta característica leva os condutores de Belém a assumirem uma postura até irresponsável no trânsito, brecando muito próximo dos demais veículos e furando semáforos e mudando bruscamente de faixa sem qualquer sinal prévio.



Tive a oportunidade de conhecer pontos turísticos como o o Mercado Municipal do Ver o Peso onde são comercializados diversos tipos de artesanatos e também são servidas comidas típicas e onde tem lugar uma feira livre.




Me impressionei com a beleza do Ver o Rio, ponto turístico alternativo que só conheci graças ao contato com uma nativa por nome Layla Santos com a qual fiz contato por meio do Couch Surfing. Ela também me mostrou outros lugares muito legais na cidade como o Teatro da Paz e me apresentou um monte de seus amigos. Reunião muito legal foi a que fomos no bar The Beattles, muito bem decorado com um monte de capas e discos de vinil e onde ouvimos muita música de qualidade.




Visitei também a praça principal, onde ocorre uma grande feira livre aos domingos e onde diversas famílias se reúnem nos gramados abaixo das árvores (no estilo pic-nic), deixando suas crianças livres para brincarem à vontade. Ali encontrei uma banca de livros usados, onde comprei 3 livros de bolso em inglês (R$5,00 cada), destaque para The Animal Farm de George Ornwell, o mesmo autor de 1984.


Quanto às bebericadas à noite, destaque vai para o Restaurante Spazzio Verde, casa de shows Terranostra e o famoso Estação das Docas, um espaço idêntico às Docas existentes no bairro Comércio, cidade baixa de Salvador, mas que teve uma boa parte "reformulada", tendo perdido as funções portuárias e hoje é um local requintado muito semelhante ao Puerto Madero, bairro portuário de Buenos Aires. Na Estação das Docas estão expostas peças encontradas durante pesquisas arqueológicas nos entornos e no fundo do rio. Além disso, lá esistem diversos stands e lojas, bem como restaurantes e bares, com destaque para a cervejaria artesanal local Amazon Beer, uma das mais gostosas do Brasil, e que conta com 5 versões de chopp, com ingredientes e graduações alcoólicas diferentes para atender aos mais exigentes paladares. Cada prédio da Estação das Docas conta com um palco suspenso e móvel onde ocorrem apresentações de música ao vivo, estilos MPB e pop-rock.
A cidade ainda conta com a Cerpa, cerveja local muito apreciada e de paladar suave e que conta com uma versão exportação.
Ao finalizar o congresso, tomamos um avião para Marabá/Pará, onde encontrei outros geólogos e professores que estavam inscritos numa excursão pela maior província mineral que o mundo conhece, a Província de Carajás. Visitamos também minas de cobre, ouro e ferro da Vale do Rio Doce, fechando com chave de ouro a atividade.
Durante aquelas excursões fomos agraciados por alguns belos pôres-do-sol, que de certa forma nos faziam esquecer que naquela semana que passamos na porção sudeste do Pará só havíamos visto áreas de pasto e queimadas e que a única área com mata preservada correspondia à reserva florestal dos Carajás, mantida pela Vale do Rio Doce perto da Mina de Ferro de Carajás, maior mina de ferro do mundo. Fiquei muito triste com aquela observação e ao mesmo tempo tentado em empreender uma aventura para desbravar o mais rápido possível a região norte do país.

Fiz contato com professores da UERJ, USP e Rural do Rio, trocamos muitas informações geológicas e batemos muito papo e fiquei muito feliz em descobrir que eles também tiveram a oportunidade de mochilar pelo mundo afora. Recebi muitas dicas do prof. Cláudio o qual também me falou sobre as diversas expedições que fez para a Antárctica, como parte do programa nacional de pesquisa Proantares. Fiquei muito interessado em participar de algum tipo de trabalho nesta linha. Quem sabe futuramente poderei escrever algo a partir do continente mais frio do planeta??

Grande abraço,
Alberto
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