Viajando aprendemos bastante sobre o lugar de onde viemos e fazemos muitos amigos (inclusive outros viajantes), o que nos estimula a seguir viagem rumo a suas cidades para conhecê-las. O problema é que não podemos nos demorar, mas quando voltamos às nossas casas, temos mais motivos para rever estes amigos, assim, passamos a trabalhar em novos roteiros de viagens e nos lançamos com mais energia em todos os nossos demais projetos. - Alberto Jr.

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SSa - Nazaré - Cruz das Almas

Pedal Salvador - Nazaré - Cruz das Almas

Fazia um tempo que queria iniciar minha carreira como ciclo-turista, e como diz Paulo Coelho em “O Alquimista”, o universo conspira sempre ao seu favor, então, foi que ao chegar em Foz do Iguaçú em meados de fevereiro deste ano, voltando ao Brasil, depois de um grande mochilão pela América do Sul, conheci o Rui Barros, um ciclo-turista nascido nas Ilhas de Cabo Verde e que já estava a mais de um ano e meio viajando pelo mundo com sua bicicleta, carinhosamente batizada de Coline transportando uma bagagem de aproximadamente 40kg, dentre roupas, equipamentos, barraca, alimentos, etc. Eles também estavam entrando no Brasil, depois de percorrerem a Argentina, fiquei sabendo dos planos de ir ao Rio de Janeiro e posteriormente, Salvador. Foi aí que fiz o convite para ficarem uns dias lá em casa, quando eles estivessem de passagem pela terrinha.
No dia seguinte, fui à Ciudad del Leste, onde comprei dois grupos de transmissão Shimano, linha Alívio, além das peças para montar uma bicicleta quando voltasse a Salvador. Dei prioridade às coisas mais leves e que não ocupassem tanto volume, por isso não comprei quadro, suspensão, aros nem raios, mas comprei camisa e luvas e para mim e 2 camisas para os primos Marcelo e Felipe.
Assim que voltei pra casa, conversei com Renan, um ciclista que Felipe e eu conhecemos durante os pedais pela cidade e ele me indicou a bicicletaria News Bike de Reinaldo, seu amigo. Marcamos um dia e fui até a loja (pedalando é claro) com a minha velha bicicleta e com todos os apetrechos na mochila. Renan me mostrou o quadro semi-novo Venzo MX-2 6061 Alloy branco com detalhes pretos que ele havia me dito que estava com um preço bom, além disso. Reinaldo fez um orçamento e acrescentei uma suspensão semi-nova que Renan havia acabado de trocar da sua bicicleta, fiquei satisfeito com o casamento com todas as outras peças GTS que havia comprado no Paraguay, e o investimento resultaria numa bike classificada na categoria esportista amador pela escoladebicicleta.com.br (acima disso, somente profissional). Ficou combinado que no dia da entrega, seria a vez de deixar a bike velha para fazer uma renovação geral, então Reinaldo fechou a loja e fomos à Ribeira tomar uma cervejinha. Mais tarde me despedi e iniciei o pedal pra casa, mas não foi possível ir tão longe, pois a velha magrela trancou o eixo traseiro dentro do túnel Américo Simos. Liguei pro Renan, e ele me deu um socorro com o carro de sua mãe até a meu apartamento, onde fizemos um negócio com algumas peças do outro kit Shimano Alívio como pagamento da suspensão da minha bike nova. Como ele iria colocar estas peças na sua bike, ficou combinado que ele iria repassar as usadas para o Reinaldo colocar na minha Bike velha e assim teria uma bicicleta nova e mais cara para andar em grupo e uma bicicleta mais velha e barata para andar sozinho.
Dias depois nascia a viuvinha, lindona. Fui buscá-la juntamente com Felipe e Rui e a trouxemos desmontada no ônibus. Nos dias seguintes Rui e eu fomos pedalar pela cidade e fizemos no primeiro dia 65km e no dia seguinte furei um pneu e nos perdemos, mas creio que fiz uns 70km pela cidade de Salvador. A bike mais velha levou alguns dias mais para ficar pronta, mas ficou irreconhecível, tamanho foi o carinho com que foi tratada na News Bike.
Tínhamos o plano de ir pra Feira de Caxixis juntamente com Renan e como Felipe ainda não havia montado a sua bike, ele iria com a minha velha bike. Fizemos todos os preparativos, comprei alguns acessórios e combinei com Rui para que ele retardasse um pouco a sua partida e fosse junto conosco. O evento ocorre na semana santa, em Nazaré, no Recôncavo Baiano, então seria muito oportuno seguir mais 75km de lá para Cruz das Almas, onde vive minha mãe e fazê-la uma surpresa.
Renan teve uma crise de cálculo renal e teve de ser internado nas vésperas da viagem, então prosseguimos com os preparativos, fizemos os últimos ajustes nas bikes e na quarta-feira 31/03/2010 fomos pra cama já fantasiados de ciclistas.

Dia 01/04/2010 (Quinta-feira)
Levantamos às 3:30h da madrugada de quinta-feira, tomamos café da manhã reforçado, arrumamos as bagagens nas garupeiras, conferimos tudo, descemos a escadaria do prédio e saímos às 5:00h. No primeiro quilômetro uma garrafa de gatorade caiu da bagagem de Rui, ele olhou para trás, se desequilibrou e levou um tombo. Passado o susto, continuamos o pedal até o terminal de São Joaquim, onde chegamos por volta das 6:00h. Passamos toda a fila de carros que aguardavam embarque, compramos nossos bilhetes por pouco mais de R$11 e seguimos até a plataforma, onde encontramos um grupo de motociclistas que ia para o Moto Festival de Porto Seguro. Uma galera muito bacana, trocamos contatos e combinamos de nos ver outras vezes.
Desembarcamos no terminal de Bom Despacho por volta das 7:00h, nos despedimos da galera e saímos na frente. Logo em seguida os motociclistas começaram a nos passar e todos buzinavam e acenavam para nós. Retribuíamos os acenos enquanto seguíamos pedalando. Cortamos toda Ilha de Itaparica, num percurso tranquilo e com relevo suavemente ondulado. A coisa mudou um pouco ao atravessarmos a ponte que liga a Ilha ao continente, mais ao sul e começamos a subir e descer umas ladeiras mais íngremes. A última de todas foi a pior. Abri uma pequena diferença dos demais e ao final da ladeira descobri uma tenda com água de côco bem gelada e doce ao valor de R$1,00. Já havia bebido duas delas quando Felipe chegou e nem acreditei, mas além de saborear a água de côco pela primeira vez, ainda teceu elogios. Rui demorou alguns minutos mais, e foi quando o avistamos empurrando Coline, ladeira a cima. Ele disse que tinha tido problemas com o cassete, e não podia fazer mudanças. Eram por volta das 11h da manhã. e estávamos na zona rural da cidade. Seguimos mais 1km até a entrada do núcleo urbano e adentramos as ruas de calçamento, chamando a atenção de todos pela cidade e o odômetro marcava 75km, correspondendo à distância que haviamos pedalado desde o CABULA, num pedal de aproximadamente 4h.
Demos uma rápida olhada na feira de artesanato e fomos até a prefeitura onde procurei Milena, acessora de comunicação e ela nos colocou em contato o Sr. Rouxinol, que iria nos encaminhar para um espaço onde iriamos acampar. Milena aproveitou e fez uma rápida entrevista conosco e o fotógrafo Roque Medeiros tirou umas fotos nossas para colocar no site oficial da prefeitura (www.nazare.ba.gov.br).
Nos recomendaram almoçar no restaurante do Jacaré, e lá chegando pedi uma Skol bem gelada enquanto aguardávamos os pratos feitos de carurú com arroz e ensopado de peixe muito bem servidos ao valor de R$6,00. Rui adorou a comida e disse que havia carurú também em Angola. Claro que não podia faltar um Guaraná Antárctica para reanimar Felipão!!
Ficamos perambulando pela cidade e à noite demos uma rápida olhada na festa, depois fomos à um centro tomar banho e voltamos ao Galpão da Prefeitura onde estávamos alojados. Imediatamente, iniciou uma forte chuva que durou toda a noite, nos impossibilitando de voltar para a festa. Estávamos perto do evento, mas parece que ninguém na cidade teve coragem de sair naquela chuva. Dormimos feito pedra.

Dia 02/04/2010 (Sexta-feira)
Acordamos por volta das 5:00h na manhã e arrumamos as coisas. Rui partiu 20min antes de mim e Felipe, então saimos em busca de uma lanchonete onde pedimos 2 eggburgeres e duas vitaminas de banana. Aproveitei pra comprar 3 garrafas de água mineral de 1,5 litros cada, enchemos os cantis e terminamos de instalar o meu ciclo-computador (tarefa iniciada na noite anterior). Tomamos o café da manhã e seguimos para a feira livre onde ganhamos de um feirante uma dúzia de bananas e uma rede de tangerinas. Agradecemos ao bom senhor e seguimos pela cidade, chamando a atenção de todos, como sempre. Tiramos uma foto legal em uma das pontes que cortam a cidade e seguimos viagem.
Eram 7:45h quando de fato saímos da cidade e tomamos a estrada para Santo Antônio de Jesus. Logo o céu abriu e indicou que seria um dia bem quente. De cara pegamos uma subida na qual comecei a pensar que não iria completar o percurso. No fundo eu sabia que iríamos subir bastante na topografia mas não esperava que o percurso tivesse de ser similar ao de uma montanha russa, com tantas subidas e descidas, e por conta disso, baixamos bastante o rendimento e tivemos de fazer mais paradas. Percebi que Felipe estava bem mais cansado e, apesar de estar levando maior peso, eu sempre abria maior distãncia que no dia anterior, então parava ao final de gandes subidas para recobrar o fôlego e aguardá-lo. Fazíamos paradas a cada 30min ou a cada 10km de percurso, para descansar e comer algo, e posteriormente, a cada 15km, nos postos de gasolina, onde reabastecíamos os cantis, bebiamos água de côco, lavávamos rosto, molhávamos capacetes, cabeça e até as roupas. Em algum momento passamos por um povoado onde disseram a Felipe que havia passado um pouco mais cedo, outro ciclista com a bicicleta cheia de "malas", era Rui.
Paramos no posto BR em Santo Antônio de Jesus, onde fizemos contato algumas pessoas que queriam saber de onde vinhamos e qual nosso destino. Aproveitei para ligar para minha mãe e informei onde estávamos.
Seguimos viagem e quase levo um tombo em um trecho onde o acostamento estava todo esburacado e tentei subir para a pista, mas o desnível era muito alto, então, segurei no freio e precisei bater o pé esquerdo duas vezes no chão para mantes o equilíbrio. Em seguida, chegamos ao entrontomamos com a BR-101 que estava com boas condições de tráfego e com acostamento em perfeita condições, então senti que iriamos desenvolver um rítmo melhor e tínhamos uma chance de ter energias para chegar em casa pedalando.
Tomamos o sentido sul, mas logo percebi o engano e fizemos a correção e em seguida percebi que estava com o pneu furado, então, fiz sinal "via apito" para Felipe que ia um pouco à frente. Iniciei os procedimentos de emergência e depois de trocar a câmara de ar e pôr o pneup no lugar, descobrimos que a câmara estava torcida e por isso, não enchia, então, refiz todo o processo. Finalmente, 20min depois estávamos rodando outra vez.
Na sequência, após a segunda subida passamos por Rui que estava fazendo alongamentos debaixo da cobertura de um ponto de ônibus do outro lado da estrada. Felipe não o viu, mas acenei e gritei alguma coisa logo que o notei e segui viagem. Alguns minutos depois paramos para descansar no posto de gasolina logo após o entroncamento de São Felipe. Novamente, usei a mangueirinha do posto para me refrescar e repentinamente caiu uma chuva pra refrescar e aproveitamos para fazer uma boquinha. A lanchonete era bem mixuruca e a melhor opção foi dois pastéis com refrigerante para cada um.
Fiquei sempre atento para ver se avistava o Rui mas ele continuava para trás. Voltamos a pedalar e observei que não pegamos mais nenhuma subida monstruosa, então, fizemos os últimos 17km até Cruz das Almas sem fazer nenhuma pausa. Chegamos arrasados em casa, por volta das 14:00h, onde todos estavam nos aguardando anciosos, só não imaginavam que fossemos chegar tão fedidos. Contamos rapidamente como foi a aventura e seguimos para o banho, enquanto nossas mães arrumavam a mesa para a ceia, em seguida comemos, bebemos e conversamos bastante e 1h depois chegou Rui, bem cansado. Fui recebê-lo e o apresentei a todos, depois ele foi pra ducha e finalmente, sentou-se para comer.
Estávamos muito cansados, então passamos o resto do dia descansando, da mesma forma que o sábado de páscoa e resolvemos seguir no domingo de ônibus para Salvador.
No domingo bem cedo levamos Rui à rodoviária, onde ele embarcou no ônibus para Itaberaba e mais tarde, após o café da manhã, fui com Lorena ao centro da cidade sacar uma grana e providenciar papelões para embrulhar as bicicletas para viagem.
Na volta passamos na rodoviária e compramos passagens (R$19,65 cada) para partirmos às 15:30h. Voltamos para casa, tomamos banho, almoçamos e seguimos com roupa de ciclista e capacete para o embarque. A viagem foi tranquila, mas com bastante tráfego e desembarcamos por volta das 20:00h (2:30h a mais que o normal) no terminal rodoviário de Salvador. Arrumamos as bagagens e pedalamos 30min até chegar em casa. Antes de entrar no condomínio comemos aquela pizza e levei ainda umas 3 fatias para geladeira.

3 comentários:

Unknown disse...

O que mais admiro em você Albert é a sua garra de sempre realizar o que deseja. Desde que nos conhecemos nunca ouvi você falar sobre um desejo do qual tenha desistido, isso significa V i v e r . Você consegue viver melhor que a maioria dos seres humanos e trocar essas experiências contigo nos da mais vontade de fazermos o mesmo.Como sempre ouço de você e tenho aprendido todos os dias a vida é única e devemos aproveitar casa segundinho. Continue assim, está no caminho certo para deixar uma linda história nesse mundo.

Unknown disse...

SOMOS TÃO PQUENOS...EM MEIO A TUDO

Alberto Santos Moreira Junior disse...

Pois é, acho que a vida é isso aí, e são estas "pequenas" coisas que irão ficar para sempre em nossas memórias...

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